Arquivo para abril \28\-03:00 2010

o primeiro dia

a principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

e é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

e entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

(a música chama-se “O primeiro dia” e recebi diretamente de Portugal, de presente de Andreia, querida que vive inundando minha caixa-postal de mensagens positivas e carinho sem fim. É de um cantor português, Sérgio Godinho – o Caetano lusitano, segundo palavras dela. Ela disse que se lembrou de mim quando ouviu. E eu, ao ver/ouvir tudo isso um dia antes de embarcar, só fiz chorar. De alegria.)

 

**

A última carta que Caio escreveu a Paula de Paris foi num dia 28 de abril também, exatos dezesseis anos atrás. Esta é a minha primeira.

swinging london

meu avião pra europa teve surpresas lindas do destino, meu irmão segurando a minha mão e um túnel do tempo para 2007.

incrível como só de pisar na cidade que habitou meu coração por seis meses uma montanha-russa de sensações tomou meu peito, tudo-ao-mesmo-tempo-agora, como se novamente eu fosse aquela garota de 22 anos, pronta para ganhar o mundo. feels like home.

 

“while my eyes
go looking for flying saucers in the sky…”

vou-me embora pra pasárgada

De mala, cuia e sonhos. Hoje. Minha Pasárgada é Paris

Nos próximos meses, vou me comunicar em outra língua, criar nova rotina, morar em outro endereço e ter até novo nome.

De agora em diante, minha vida será assim: en rose.

Ou como já diria Caio, “É dificil aprisionar os que têm asas”. Estou partindo.

(a foto é do presente mais fofo do mundo e amuleto de sorte pra vida, que ganhei de lissa no meu último aniversário, diretamente de NY: a correntinha “j’aime paris”. lissa é amiga mais-que-querida e foi uma das primeiras a me dar uma super força nesta empreitada; linda!)

all i know, all i know, love will save the day

Num post do final de junho de 2007, poucos dias antes de ir para Londres:

“(…) Tenho um milhão de expectativas e toda energia positiva do mundo ao meu lado, recebi boas vibrações de todos os cantos possíveis e os desejos são de que despedidas sejam sempre assim: doces, cercadas de carinho e de momentos mágicos, de beijos, abraços e amor que não tem hora pra acabar. 

(…) E eu, boboca e sentimentalóide que só, já chorei um monte com tanta demonstração de afeto de todas as partes. Agora, carrego comigo, para a Europa e para o mundo, toda a sorte que me couber logo ali, dentro da bolsa e do coração. E dessa, eu jamais abro mão.”

Engraçado como cada abraço é capaz de me transportar novamente para aquela época – uma sensação boa de déja vu, de esperanças e borboletas que não cabem dentro de mim. Agora estou em nova despedida, e sinto uma corrente tão forte de amor que às vezes tenho a impressão de que posso explodir. Acho que estou no caminho certo.


(este livro foi presente de big sis quando ela esteve aqui em 2008. tipo profético, néam?!)

inbetween days

“A fascinação de Caio pelo estrangeiro nasceu com ele (…) O menino achava o espetáculo [de atravessar a fronteira] fascinante, tudo mudava de repente, a paisagem, a língua, os hábitos, e assim ele foi se acostumando com a empolgante sensação de estar em outro país. (…) De uma coisa ele tinha certeza: adorava viajar. E era hora de cair fora.

 

‘Eu não sei quando volto. Nem se volto. (…) Talvez eu já não esteja completamente aqui. Nem lá, seja aonde for. Antes de viajar, fico pairando. Talvez a alma parta antes e não saiba direito aonde ir sem o corpo. Na morte deve ser parecido.’

(“Para sempre teu, Caio F.”, texto de Paula Dip, em itálico carta de Caio Fernando)

revendo padrões

“Quando você é jovem, sua vida gira em torno da busca pela diversão. Aí você cresce e aprende a ser cautelosa. Pode quebrar um osso, ou o coração. Você olha antes de saltar, e às vezes nem salta, porque nem sempre há alguém embaixo para aparar sua queda. Na vida, não há redes de segurança.
Quando a vida parou de ser divertida e se tornou assustadora? Decidi que era hora de deixar o medo para trás e me divertir.”
(no episódio “The catch” de “Sex and the city”)

Ou o que a Tatá, amiga querida, falou na terça: “Naná, vai dar tudo muito certo para você lá… E não tem que ficar pensando, ‘será que eu faço?’, FAÇA, não fique questionando, ‘será que eu compro?!’, COMPRE. Porque a vida muda muito rápido, e a pior coisa que tem é a gente ficar se arrependendo pelo que não fez”.

tsá?! :)

dia de santo expedito

santo das causas urgentes e PADROEIRO DOS VIAJANTES.

acendam uma vela e rezem por mim! ;*

the power of goodbyes

“Fins nunca são fáceis. Eu sempre construo-os tanto na minha cabeça, que eles não têm a possibilidade de superar minhas expectativas e eu acabo desapontado. E eu nem sei direito porque isso importa tanto pra mim, o modo que as coisas acabaram aqui. Acho que é porque todos nós queremos acreditar que o que a gente faz é importante. Que as pessoas se importam com cada palavra sua, que se importam com o que você pensa. A verdade é: você deveria se considerar sortudo se ocasionalmente fizer alguém, qualquer um, se sentir um pouco melhor. Depois disso, é tudo sobre as pessoas que você colocou na sua vida. Enquanto minha mente passa por rostos que vi antes, eu me lembro da minha família… de amigos de trabalho… de amores perdidos… amigos de infância… e até daqueles que me deixaram… E quando eu dobro a esquina tudo vem até mim, como uma onda de experiência partilhada…(…)”
(texto de Leo, amigo querido de partida, também)

Terça foi dia de despedidas na agência. E toda vez que passo por isso em algum ambiente tão familiar (seja trabalho, curso ou algo assim), saio com uma pontinha de pesar no coração. Dou um abraço apertado e, por mais que digamos coisas como “vamos marcar alguma coisa depois?” (talvez mais por hábito que por crença), sabemos que a maioria dessas pessoas nós jamais veremos novamente, mesmo que o carinho tenha sido sincero. A gente sempre quer pensar que foi importante, que deixou uma marca nos outros, mesmo sabendo que certas impressões, por mais positivas que sejam, se esvaem com o tempo. É o curso natural da vida, e faz parte, até para abrir espaço para tudo o que tem de novo e que está por vir. Estou de braços – e coração – abertos.

 

“I’ve had to say goodbye more times than I would’ve liked. But everyone can say that. And no matter how many times we do it, even when it’s for the great or good, it still stinks. And though we’ll never forget what we’ve given up, we owe to ourselves to keep moving forward. What we can’t do is live our lives always afraid of the next goodbye, because chances are: they’re not going to stop. The trick is to recognize when a goodbye can be a good thing, when it’s a chance to start again.”
(Ugly Betty, “Back in her place”)

god put a smile upon your face

Um dos “efeitos colaterais” de ter trabalhado por cinco meses tão longe de casa era ter que acordar muito, muito cedo. Às 5h30, quando nem o sol acordou ainda. Todos os dias. Sou dorminhoca convicta e era um sacríficio sair da cama. Tudo para aproveitar carona com mamis até uma parte do trajeto, e seguir caminhando o restante. Quando chegávamos ao consultório, enquanto ela ouvia seus recados e organizava as consultas, eu fazia café fresquinho para nós duas, ligava o rádio nas minhas músicas favoritas, e às vezes ao sair comprava um bagel quentinho na loja ao lado para me fazer companhia no trajeto. 40 minutos de caminhada pelas ruas agradáveis de moema, colocando as ideias em ordem, trilha sonora inspiradora nos ouvidos, pensando na vida, sonhando acordada (ou vá, meio dormindo ainda, certas vezes).

Então percebi que o que me deixava de bico nem era acordar tão cedo, porque eu adoro o ar fresco da manhã, as ruas ainda meio vazias, o sol tímido. O que me deixava de fato mal humoradérrima era quando chovia (tou pra conhecer alguém tão rancorosa com chuva como eu), porque significava que eu teria que abandonar minha caminhada e pegar um ônibus.

Então é isso, nossa eterna luta para “fazer do limão uma limonada”: já que eu tinha que acordar cedo mesmo, que isso fosse então um momento bom do meu dia. Chegava ao trabalho com a cabeça arejada, bem humorada e cheia de ideias, sempre. E hoje, em meu último dia, tocou no rádio essa música do título, às 6h30 de uma manhã de outono. E eu pensei, “Deus colocou mesmo um sorriso em meu rosto”.

lição de casa

Amanhã é meu último dia aqui na B2. E todas as partidas sempre me trazem um monte de reflexões, principalmente sobre as chegadas, sobre o oposto, sobre como tudo começou.

Uma das minhas melhores amigas me indicou para um freela de um mês, em outubro, que não deu certo e acionou a autopiedade-de-dramaqueen que existe em moi. Mas então, um mês depois, surgiu um outro freela, mais consistente, para auxiliar na coordenação de uma campanha de cinco meses.

Se eu disser que cheguei aqui “com todo meu coração” estarei mentindo. Não foi paixão à primeira vista, o lugar era longe e tinha muito mais contras do que prós. Mas eu estava fragilizada, desempregada e com o coração machucado, querendo um respiro. Mergulhei.

Sabrina foi minha chefe por três meses. Oposto de todas as minhas chefes anteriores, tínhamos pouco em comum. Mas ela é uma pessoa linda e do bem, o que para mim já é cartão de visita suficiente. Clicamos imediatamente na entrevista, e é amiga que carrego pra vida. Me deu uma chance, acreditou em mim e apostou no meu potencial. Existe bem maior?

E não só ela como outras pessoas apostaram em mim. E foi aqui, num freela de cinco meses sem pretensão alguma, que eu consegui meus primeiros jobs extras como redatora e revisora, que eu sempre tive vontade de fazer mas nunca tinha tido oportunidade. Foi aqui minha primeira chance de coordenar uma campanha depois que a Sá foi alçar voos maiores, foi minha primeira vez como chefa (com estagiária e tudo!), tendo que delegar coisas a alguém, pegar na mão e mostrar caminhos.

Demorei a me enturmar, sempre tive a sensação de que partiria logo e não valeria a pena, que ninguém combinava comigo. Ledo engano. Nos dois últimos meses, já “enturmada”, é que fui mais feliz. Amigas para mandar email no meio da tarde para tricotar, para ir até a esquina comer brigadeiro e desabafar rancores. Ombros, ouvidos, apoio.

Saio amanhã com o coração leve e a sensação de missão cumprida, de ter feito meu melhor. Sem a B2, eu não teria superado alguns medos e obstáculos. Não teria conseguido juntar a grana para realizar meu sonho em dez dias. Não teria conhecido gente que levantou a minha autoestima, que acreditou que eu era capaz, que enxergou meu potencial e quis me ver crescer, apesar de.

Sem esse freela-sem-pretensão-alguma, eu não teria aprendido, pela enésima vez, que é daonde menos esperamos que vêm as maiores recompensas. Espero que desta vez tenha sido pra valer.


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