Arquivo para janeiro \31\-03:00 2011

mr. jones and me tell each other fairy tales

O último visitante que recebi foi no sábado, um sul-africano de trinta e um anos e olhar gentil. Nessas de levar as pessoas para conhecer minha cidade, acabamos passando o dia todo juntos. Quando quem recebo é uma pessoa no singular, é natural falarmos de vida pessoal também, como amigos. Tenho a sorte de só receber gente do bem, receptiva, acolhedora e aberta a trocas. E foi assim neste dia também. Falando de família, religião, dores e amores, ele dividiu comigo sua história: sua esposa havia falecido num trágico acidente de carro há dois anos, grávida do primeiro filho, um menino. E ele me contou que na primeira vez que a viu, ainda numa aula na faculdade, ele chegou para os amigos e disse: “hoje eu conheci a mulher com quem vou me casar”. Ele nem sabia seu nome ainda. Quatro anos depois eles se tornaram marido e mulher.

Essa história me tocou tanto que há dois dias não consigo parar de pensar nisso. Porque, apesar de ter passado por uma tragédia pessoal assim tão significativa e divisora de águas em sua vida, ele não se tornou uma pessoa amarga e desesperançosa. Pelo contrário: ele é um homem apaixonado pelos sobrinhos pequenos, educado, aberto, que ainda acredita no amor e adora descobrir coisas novas. Disse que sabe que pode ser feliz novamente e que procura uma esposa, quer construir outra família e fazer tudo de novo, diferente.

Fiquei pensando num texto que li outro dia na Vida Simples, citando o filósofo Jean-Paul Sartre e sua crença de que “somos os únicos responsáveis por nossas escolhas na vida. Nascido rico ou pobre, alto ou magro, o que o sujeito vai fazer com isso, com essas características, é sua essência, e não é justificável atirar a carga para a natureza ou Deus”. E esse homem que conheci, que tinha todas as razões do mundo para se tornar alguém recluso e desacreditado, ainda tem fé e bom humor para encarar a vida.

Depois do nosso encontro me lembrei de uma música que eu amava na adolescência, que tem o seu nome. E encontrei muitas similaridades na sua letra: em como todos nós queremos algo bonito, em como Mr. Jones o ajuda a acreditar, em como eles olham para o futuro. E em como todos nós seremos grandes, grandes estrelas. Basta acreditar – e nós ainda acreditamos. No futuro e neste presente.

cheirinho de caderno novo

Tenho escrito pouco, mas tenho refletido muito. E trabalhado muito, estudado bastante, digerido outros conceitos, rascunhado montes de coisas, feito mil contatos e recebido boas energias. Olho o mundo em volta com anatomia de esponja: querendo absorver tudo.

Parece que há momentos em que a gente se sente de fato mais produtivo, com mais gás para lutar pelas coisas. E é assim que me sinto, com muitas áreas da minha vida tomando forma e caminhando em direção a algo ainda inédito, mas bom. Dou ctrl c + ctrlv v num email de amiga querida que inicia nova fase profissional, e ela dizia: “tô super empolgada… cheia de novidades, tô com aquela sensação de primeiro dia de aula, com cheirinho de caderno novo e tudo! Tô com medo também, um friozinho na barriga…”

Mas até o medo é bom: vi um filme dia desses em que um dos personagens dizia que, sem medo, não há coragem. E todos nós queremos mais é ser corajosos para seguir adiante né? Tipo coração valente: vem medo, pode vir que a gente aguenta!

ensaio sobre a cegueira

comecei a ter sinais de miopia quando entrei na faculdade, e tinha dificuldade para ver a lousa nas aulas noturnas (oi turma do fundão). logo eu, que sempre me orgulhei da visão perfeita na adolescência para enxergar a beleza das coisas cotidianas da vida (rá!).

de início meu grau era pequeno e um óculos resolvia, além de me dar um charminho intelectual extra, para posar de sabida. mas né, nobody is getting any younger e a situação foi piorando nos últimos sete anos. até que, na minha última visita à oftalmo, cerca de um mês atrás, cheguei à conclusão de que não dava mais para usar óculos eventualmente, porque meu grau estava razoável já e eu ficava com dor de cabeça de passar o dia forçando a vista para enxergar o mundo ao redor (além dos pés-de-galinha precoces que acabam vindo no pacote).

então ontem eu fui fazer o teste de lentes de contato, pela primeira vez. e, passado o desconforto inicial, comecei a ver tudo o que me cercava, mesmo o que estava longe. um mundo todo se abriu diante dos meus olhos, e a única pergunta que não saía da minha cabeça era “por que eu não fiz isso antes?”.

***

às vezes passamos muito tempo brigando contra coisas que achamos não serem certas para nós sem ao menos termos tentado. e, quando voltamos a enxergar, nosso único arrependimento é não tê-lo feito há mais tempo.

incrível como isso se aplica em tantas situações da minha vida.²

spring cleaning

curioso pensar que meu aniversário foi há apenas um mês, mas TANTA coisa aconteceu na minha vida desde então que parece que faz muito mais que tempo que cheguei aos 26.

levei a sério a história de “reset” e de tirar as coisas velhas do caminho para deixar entrarem as novas, e tive surpresas tão boas por conta disso… parei de dar cabeçadas e insistir em histórias que não levam a nada; mudei as leituras, a comida e até a maneira de me vestir, me comportar e me enxergar. reprogramei o pensamento, troquei algumas companhias, tirei a poeira de velhos sonhos e projetos e cá estou, agora, tinindo de energia e acontecimentos batendo à porta.

hoje encontrei uma pessoa que me fez perceber que, por mais que a gente não identifique de imediato o propósito de alguém que entra na nossa vida – e por mais que às vezes a gente até queira que essa pessoa venha com outra missão –; o essencial é manter os olhos e o coração abertos para o que quer que ela tenha a nos oferecer, porque sempre, sempre um outro alguém tem algo a nos acrescentar. e, se a gente aprender a olhar, pode servir de espelho para percebermos onde precisamos melhorar – e em que devemos nos perdoar e nos amar mais, também.

e eu sei que nem é a primavera e ainda falta muito para a próxima chegar, mas a playlist que tenho ouvido sem parar é essa, “spring cleaning”. porque o verão pode nem ser a estação das flores, mas é assim que me sinto: florescendo.

danoninho e desamores

“Esta é uma história real. Catarina é filha de uma amiga nossa e tinha 4 ou 5 anos quando se apaixonou pela primeira vez. O escolhido foi um coleguinha do clube, e ela passou a querer se vestir melhor para as aulas de natação, desfilando todo o seu charme quando o garotinho, três anos mais velho, estava por perto. Um dia, Catarina quis levar para seu eleito um presente, e escolheu aquilo que para ela era a prova inegável de amor: um Danoninho. Saiu sorridente, levando nas mãos a apetitosa declaração para o amado. O menino, ainda pouco ciente das sutilezas da sedução e pensando mais com o estômago do que com o coração, recusou o presente sem meias palavras: “Não quero”.

Desiludida e em prantos, Catarina voltou para perto da mãe com o veredicto sobre o ocorrido, que comunicou entre soluços:

– Mamãe, ele não sabe que quer o meu Danoninho!

A história de Catarina nos disse muito sobre o amor.

A mãe dela nos contou isso em uma mesa de bar, sorrindo e sentenciando pras amigas: “Coitada, tão nova e já tão iludida”.

Mas quantas vezes a gente não faz exatamente o mesmo que essa garotinha, preferindo acreditar que o outro não sabe ainda que quer o nosso Danoninho, o nosso telefonema, a nossa companhia, o nosso amor?

Ah, Catarina. Ah, Catarinas todas, essas almas apaixonadas transbordando de vontade de trocar. Às vezes correspondidas, às vezes não. Continuem tentando. (…)”

(texto de Juliana Sampaio e Laura Guimarães, vi na revista tpm)

***

nós continuamos.

teoria da evolução

“(…) Hoje é segunda-feira, dia 10. Como você vê, eu não morri. Vou ao dentista. Semana perigosa, essa. Eu falo a verdade. Não a verdade toda, como disse. E se Deus sabe, isso é com Ele. Ele que se arrume. Não sei mas vou me arrumar como posso. Como aleijado. Viver de graça é que não se pode. Pagar para viver? Tenho sobrevida. Igual ao vira-lata Ulisses. Quanto a mim acho que.”

(Clarice Lispector, em “Brasília: esplendor”, do livro querido que ganhei de presente de aniversário e foi ótima companhia nas férias)

***

então estou fazendo a minha parte para corresponder às expectativas do tão aguardado 2011: acabei de voltar de uma temporada de quase dez dias no meu canto favorito do litoral paulista, isolada do mundo, onde minha única preocupação era descansar, cozinhar e aconchegar, curtindo montes de leituras para “ser uma pessoa melhor a cada dia, todos os dias”.

voltei cheia de boas energias, inspirações mil e amor para dar e vender.

oi 2011, pode vir quente que ó, tamos fervendo aqui! ;)))

bonjour, 2011!

“é assim que me sinto: amanhecendo.”
(caio fernando abreu)

 

feliz vida nova! ;)))


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