O último visitante que recebi foi no sábado, um sul-africano de trinta e um anos e olhar gentil. Nessas de levar as pessoas para conhecer minha cidade, acabamos passando o dia todo juntos. Quando quem recebo é uma pessoa no singular, é natural falarmos de vida pessoal também, como amigos. Tenho a sorte de só receber gente do bem, receptiva, acolhedora e aberta a trocas. E foi assim neste dia também. Falando de família, religião, dores e amores, ele dividiu comigo sua história: sua esposa havia falecido num trágico acidente de carro há dois anos, grávida do primeiro filho, um menino. E ele me contou que na primeira vez que a viu, ainda numa aula na faculdade, ele chegou para os amigos e disse: “hoje eu conheci a mulher com quem vou me casar”. Ele nem sabia seu nome ainda. Quatro anos depois eles se tornaram marido e mulher.
Essa história me tocou tanto que há dois dias não consigo parar de pensar nisso. Porque, apesar de ter passado por uma tragédia pessoal assim tão significativa e divisora de águas em sua vida, ele não se tornou uma pessoa amarga e desesperançosa. Pelo contrário: ele é um homem apaixonado pelos sobrinhos pequenos, educado, aberto, que ainda acredita no amor e adora descobrir coisas novas. Disse que sabe que pode ser feliz novamente e que procura uma esposa, quer construir outra família e fazer tudo de novo, diferente.
Fiquei pensando num texto que li outro dia na Vida Simples, citando o filósofo Jean-Paul Sartre e sua crença de que “somos os únicos responsáveis por nossas escolhas na vida. Nascido rico ou pobre, alto ou magro, o que o sujeito vai fazer com isso, com essas características, é sua essência, e não é justificável atirar a carga para a natureza ou Deus”. E esse homem que conheci, que tinha todas as razões do mundo para se tornar alguém recluso e desacreditado, ainda tem fé e bom humor para encarar a vida.
Depois do nosso encontro me lembrei de uma música que eu amava na adolescência, que tem o seu nome. E encontrei muitas similaridades na sua letra: em como todos nós queremos algo bonito, em como Mr. Jones o ajuda a acreditar, em como eles olham para o futuro. E em como todos nós seremos grandes, grandes estrelas. Basta acreditar – e nós ainda acreditamos. No futuro e neste presente.