Outro dia tinha que passar numa loja para trocar uma roupa, antes de ir à aula de balé. E tinha sido um dia tão, mas tão cansativo. Cheguei ao local e de lá pensei em comer junkie food (coisa que raramente faço) e depois voltar direto para a minha casa, sem ir ao balé. Pensei em nem trocar a roupa. Depois troquei. E não comi. E fui ao balé. E aí sim voltei pra casa, comendo um pacotinho de mini-pães de queijo no metrô, sentada na janela e vendo a cidade passar borrada ao meu lado, cheia de luzes. E me dei conta de que, a maior parte do tempo, vivemos no piloto automático. A gente praticamente nem considera que, a cada passo que damos, há uma quantidade infinita de outros passos que poderíamos ter dado. Mudar o trajeto para voltar para casa, trocar a opção de café da manhã, dormir do outro lado da cama, não passar condicionador no cabelo, deixar de responder alguma mensagem, testar outra combinação de roupa, experimentar algo totalmente novo, não adoçar a limonada, dormir na casa de alguém. Não dormir. Ver o nascer do sol.
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Uma vez li um texto que dizia que tudo o que fazemos sem pensar é, na verdade, um mecanismo de defesa do cérebro para poupar energia. Se todos os dias, pelas manhãs, a gente fosse pensar em qual pé colocar na frente para levantar da cama, em como ligar o chuveiro, em qual ferramenta utilizamos para escovar os dentes, em como se acende o fogão… no meio da manhã já estaríamos exaustos. Então, tudo bem deixar muitas coisas no piloto automático. Mas tudo bem – e melhor até – se permitir mudar muitas coisas vez ou outra, e dar chance para que novas escolhas e trajetórias tragam uma perspectiva renovada de vida. Mesmo que seja apenas jantar pão de queijo no meio de uma semana ensolarada e cheia de pequenas-grandes decisões.