Eu estava com um livro de Clarice na mão divagando sobre felicidades clandestinas quando tirei os olhos das páginas e na estação da linha vermelha entrou um rapaz de vinte e muitos ou trinta e poucos e ele vestia uma roupa casual mas o que chamou a minha atenção foi o que ele tinha nas mãos porque eu achei que era um guardanapo amassado mas quando reparei: era um cravo. Um só. No exato momento em que eu pensava sobre meus amores partidos e sobre o capítulo da novela que eu estava perdendo, numa segunda-feira às nove e meia da noite, voltando pra casa depois da aula de balé: havia um rapaz com um cravo branco solitário nas mãos, com aquele frescor e formosura que só as flores recém-colhidas ainda têm.
E eu não sei quem iria ganhar aquele cravo, se era uma rosa despedaçada que brigou debaixo de uma sacada, ou apenas alguma moça enamorada. Mas achei tudo tão singelo.