Era a primeira vez que eu jogava e ainda estava meio perdida. Minha família havia acabado de me ensinar por cima alguns detalhes – como toda boa família espanhola, com fala rápida em castelhano coloquial, regado a uns bons tragos, de bebida e cigarro. Então houve a chance de apostar tudo o que eu tinha, e eu o fiz. E ganhei. Meu irmão ficou orgulhoso, a amiga da minha prima riu e disse ser “sorte de principiante”. Houve outras partidas depois, eu perdi também, e voltei a ganhar e a perder. Muitas outras vezes.
Mas, no jogo, tudo que ficou entre as perdas e ganhos foram as fichas de pôquer e as histórias para contar. Na vida, um pouco mais, um pouco menos. No último mês, em várias situações me deparei com esse tipo de escolha. E percebi que, na maioria dos casos, eu não tinha nada a perder, tipo Bob Dylan, when-you-got-nothing-you-got-nothing-to-lose. Ou: tudo o que iria para o ralo eram convenções baratas acumuladas em longos anos de estrada, valores e crenças que já não faziam mais sentido e que, ao invés de ajudar, estavam atrapalhando meu crescimento, meu next step. Então apostei tudo.
Sempre fui caretinha, cdf e pontual. Tirava as notas mais altas, não atrasava para compromissos, não colava na prova. E nunca, nunca fui de arriscar grandes coisas sem saber onde estava pisando. Meu irmão ficou surpreso com minha nova persona, mas devo confessar que a pessoa mais espantada nessa história toda era eu: arriscando em diferentes situações, sabendo que, no fundo, eu não tinha nada a perder, me deu uma sensação de liberdade nunca antes experimentada, de poder fazer tudo que me desse na telha, sem pensar nas consequências.
No fim, não saí mais rica de dinheiro, mas sim das tais experiências de vida, muitas, que ainda estou digerindo e trazendo para o meu cotidiano. E aprendi a fazer “poker face” e a blefar também, porque toda aposta vale a pena quando o que está em jogo é a felicidade. Mesmo que ela venha em fichas de plástico de 100€ made in china.