Arquivo para junho \30\-03:00 2010

conselho do dia

“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperança, mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte. Se perceber que precisa seguir, siga!”
(Fernando Pessoa)

Quando a gente vira adulto tem dessas, né? Tomar decisões sozinha. Conversei com quem pude e cada um palpita de um jeito, mas, no-fundo-no-fundo, é aquela coisa – a gente sabe pra onde nosso coração quer ir, só resta coragem para enfrentar. Sempre ela, essa rebelde. 

Mas então chega a um ponto que é nem mais questão de insistir ou desistir. É questão de existir.

com que roupa eu vou?

“(…) Ela estava sempre impecavelmente vestida, como se o lugar para onde ela estivesse indo fosse sempre o melhor lugar do mundo – mesmo quando esse lugar era apenas a mercearia da esquina.”* 

Dia desses estava lendo uma matéria numa Vogue antiga que comprei em um sebo aqui, e essa frase acima me chamou muito a atenção. Ela estava perdida no meio de um texto da seção “Nostalgia”, que contava a obsessão da autora sobre uma modelo que morava em seu prédio durante a juventude. E me peguei pensando em quanto carinho e respeito é preciso ter consigo mesma e com o resto do mundo para sempre ter tanto cuidado na hora de se vestir. Desde que li esse texto venho tentando vencer a preguiça matinal e aplicar no meu próprio dia a dia, e é incrível o que consegui fazer com um pouquinho de criatividade e inspiração – apesar do guarda-roupa superlimitado, um dos efeitos colaterais de se colocar a vida numa mala de 23kg para cruzar o Atlântico.

Lembrei de um texto das Oficinas (queridas!) e outro do minas de ouro. Compartilhei ambos em meu reader há uns meses com observações do tipo “se até Clarice Lispector se preocupava com vaidades e feminices, quem somos nós para dizer o contrário?” e “sou superpartidária desta filosofia também, que se querer bem é, de certa forma, querer bem o outro também, mostra respeito e cuidado com o mundo ao redor e influencia pessoas de maneira positiva, tipo bola de neve do bem!”. Não acho que seja frivolidade, sempre acreditei ser uma sabedoria bem aplicada – afinal, quem não quer ver o mundo todo mais bonito?

No último lugar em que trabalhei, as meninas sempre vinham me pedir dicas, só porque eu saía um pouco do lugar-comum. E olha que nem sou entendida da área nem nada, sou apenas amadora – no sentido mais puro do termo, o de amar mesmo. Porque se eu estiver me sentindo bem, isso reflete no meu dia todo – do meu humor ao sorriso com que eu recebo as pessoas. Não quero me desculpar por querer me sentir bonita, não quero parecer fútil e não quero que isso faça as pessoas pensarem que eu me importo menos com outras coisas – porque na verdade eu me importo é mais. E me importo tanto que só quero que todos ao meu redor se sintam sempre como se estivessem no melhor lugar do mundo – mesmo que seja só a mercearia da esquina.


*tradução livre dos originais em inglês

belo, belo, tudo quanto quero

“Uns lutam contra a solidão através da violência, do sexo e da bebida; outros, como a heroína, pela silenciosa busca da beleza.”
(Paula Dip, sobre a protagonista de “O coração é um caçador solitário”)

Sempre digo que, se fosse me definir em apenas uma frase, ela seria “Meu nome é Nathalia e eu gosto de coisas bonitas.” No sentido amplo, sutil e subjetivo da beleza. Por isso quando li essa frase me identifiquei tanto: essa é minha maneira de buscar meu lugar no mundo.


*post especialmente dedicado a Lissa-lindeza-de-ma-vie, minha gêmea na busca silenciosa pela beleza ;*

eu quero paz e arroz


‘il y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente’
(camille claudel)*

Quando o blog ficava no outro domínio ainda, há uns dois ou três anos, escrevi um texto sobre o desassossego (inspirado em outro, de Martha Medeiros), falando sobre essa nossa inquietude de querer beber o mundo numa garrafa de coca-cola, tudo-ao-mesmo-tempo-agora. 

O tempo passa, mas a angústia permanece – mesmo realizando o grande sonho da minha vida, sempre tem aquela coceirinha chata dizendo que ainda falta algo. E por mais que eu saiba que, no fundo, é esse desassossego que me empurra pra frente e me dá gás para seguir adiante, que é ele que me fez vir de mala, cuia e braços abertos para morar em outro país; a verdade-verdadeira é que na maior parte do tempo o que mais tenho vontade de dizer é: “sossega, coração. sossega.


*’há sempre uma ausência que me atormenta’, em tradução livre. a frase estava em uma carta de camille a rodin. a foto eu tirei da janela da minha cozinha aqui, num fim de tarde de primavera.

abre essa janela, primavera quer entrar

Após uma temporada cinzenta, houve um dia em que eu acordei e simplesmente decidi que seria diferente. Sacodi a poeira e entoei meu mantra, podem-até-maltratar-meu-coração-que-meu-espírito-ninguém-vai-conseguir-quebrar. Me mimei com guloseimas favoritas, escolhi roupa bonita e lingerie nova, e saí para beber o mundo numa garrafa de coca-cola. Distribuí sorrisos e ganhei o coração de vários senhorzinhos simpáticos – dois até elogiaram a minha meia-calça de lacinhos, fofos! E segui borboletando, feliz, feliz. O dia todo parecia estar me sorrindo de volta – o céu azul, o cheiro das flores da primavera, as pessoas que cruzavam meu caminho.

Até que parei numa esquina e saquei meu espelho da bolsa para conferir se o make ainda estava ok, antes de encontrar uma pessoa. Coisas de mulherzinha, medo de ter virado panda ao coçar o olho após ver uma flor colorida na calçada. No que um outro senhor muito gentil, passando ao meu lado, do nada me olha e diz:

Vous êtes jolie, madmoiselle*. Não precisa se preocupar.

Tem como não amar?!

E no resto do dia a música que não saía da minha cabeça era um rap-pop ou algo assim, muito velho, que ressurgiu das entranhas da minha memória e dizia, “muda, que quando a gente muda, o mundo muda com a gente”. E não é?!

*Você é bonita, senhorita.

 


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