Arquivo para outubro \31\-03:00 2009

não-dor

“Respirou fundo. Morangos, mangas maduras, monóxido de carbono, pólen, jasmins nas varandas dos subúrbios. O vento jogou seus cabelos ruivos sobre a cara. Sacudiu a cabeça para afastá-los e saiu andando lenta em busca de uma rua sem carros, de uma rua com árvores, uma rua em silêncio onde pudesse caminhar devagar e sozinha até em casa. Sem pensar em nada, sem nenhuma amargura, nenhuma vaga saudade, rejeição, rancor ou melancolia. Nada por dentro e por fora além daquele quase-novembro, daquele sábado, daquele vento, daquele céu azul – daquela não-dor, afinal.

(Caio Fernando Abreu em Estranhos Estrangeiros, via “entre aspas”)

Dizem que depois da tempestade, vem a calmaria. Certas vezes, vem a anestesia primeiro. Vem a não-dor, não-sentir, nem alegria nem tristeza, nem raiva nem nada. Como se fosse mais fácil colocar certas coisas num arquivo paralelo da trajetória, a serem resolvidas com o tempo, para não sofrer. Porque remexer e buscar e fuçar é sentir – e, de uns tempos pra cá, sentir é sofrer. Então melhor deixar de lado, seguir a vida que resta com passos largos, para que o tempo, tal ‘senhor da razão’, faça a sua parte. A anestesia toma conta do quase-novembro, de um sábado de sol que tem cheiro de primavera e calor de verão, mas que ainda não tem sabor de vida plena. Que há de vir, eu sei. Quando chegar a hora – nem antes, nem depois.

nobody said it was easy

‘não vou me deixar embrutecer
eu acredito nos meus ideais
podem até maltratar meu coração,
que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar’

(renato russo, em ‘um dia perfeito’)
 

muitas coisas difíceis acontecem certas vezes, até para pessoas de bem. de questionar tudo ao redor, de duvidar de certezas que antes pareciam tão irrefutáveis, de se sentir sem chão.

eu passei por alguns momentos desses nos últimos meses. e é sempre neles que eu recorro a esses versos acima, que me acompanham há uns oito anos. porque mesmo quando tudo dá errado, eu ainda tenho aquela esperança teimosa aqui dentro, que insiste em sussurrar nos meus ouvidos que vai ficar tudo bem, que vai dar tudo certo. ainda não sei bem se isso é defeito ou qualidade. mas eu sempre escuto o que ela tem a dizer. até o momento, tem funcionado.

and it breaks my hea-a-a-a-art

Acho que deveria haver uma licença no trabalho para coração partido, tipo licença-maternidade ou licença-médica. Bem assim, “chefe, vem cá, meu conto-de-fadas não teve um final feliz e eu preciso de uns dias em casa para fazer uma faxina no meu quarto, ouvir músicas dor-de-cotovelo, chorar debaixo do edredom vendo seriados na tevê e desabafar com as amigas afogando as mágoas num pote de doce-de-leite, questionando, por quê, meudeus, por quê?!?”.

E voilà, um chefe piedoso e uma licença. Porque é muito difícil se concentrar em juntar as peças de uma planilha ou entregar um relatório completo quando seu coração está em frangalhos. Com tudo ao redor em pedaços, não dá para pensar em inteiros. Chega a ser desumano.

 

(texto em homenagem a uma das pessoas que mais amo no mundo, que teve seu coração despedaçado ontem e hoje teve que deixar o trabalho no meio do expediente porque só fazia chorar)

para colar no espelho

niceday

via

das inspirações aleatórias

Hugh Hefner, criador da Playboy, em entrevista à Folha:

“FOLHA – Outra coisa que teve grande impacto no senhor foi a infidelidade de sua primeira mulher.
HEFNER
– A descoberta, logo antes do meu casamento, de que ela tinha um caso e fazia sexo, foi a experiência mais devastadora de minha vida.

FOLHA – E por culpa disso tivemos a “Playboy”?
HEFNER
– Estranho como as coisas acontecem. Difícil imaginar como a vida seria se isso não tivesse acontecido, um casamento feliz por todos esses anos. Mas, do meu ponto de vista, o que aconteceu acabou sendo melhor para mim.”

 

Curioso pensar que o maior bon vivant que existe, invejado por 9 entre 10 homens, só é quem é hoje porque teve o coração partido.

Como há males que realmente vêm para o bem, não é mesmo?

broken wings

“Being broken-hearted is like having broken ribs. On the outside it looks like nothing is wrong, but every breath hurts.”

(unknown)

via

hecho en argentina

drops

Mamis e papis acabaram de me trazer un regalito de viaje: pastillas de anís.

Tem como não amar? :}

about felicity

Estou apaixonada pelo seriado Felicity, que voltou a ser exibido na Sony há pouco mais de duas semanas. Não tinha tido a oportunidade de assistir antes, e agora estou acompanhando tudo desde o início.

Num site super fofo sobre a série achei alguns trechos de conversas da própria Felicity com Sally, sua amiga, das tais K7 que elas gravam uma pra outra e dão o tom dos episódios. Algumas me ajudaram bastante a refletir sobre um bocado de coisas nestes tempos de incertezas e, sempre no final do capítulo, me dão um gostinho de quero-mais. Selecionei algumas para pôr aqui:

Sometimes in a relationship, going through hell isn’t so bad if you come out of it a little stronger. – Sally

Sometimes it’s the smallest decisions that can pretty much change your life forever. – Felicity

On one hand, expectations can inspire you, but then again, they can really let you down. – Sally

Love is complicated — full of sacrifice and compromise. But maybe that’s the best part. – Sally

Do you know what I definitely believe in? Fate — that things happen for a reason. – Felicity

I’ve become a real believer in not defining every single thing. Seems like everytime you think you’ve figured out what something is, it just becomes something else. – Sally

Maybe getting over someone you’re in love with isn’t impossible. Unless, maybe you don’t actually get over it. Maybe you just learn to live with it. – Felicity

When your heart gets broken, you sort of see the cracks in everything. – Sally

 

E as top-favoritas:

Sometimes bad things just happen — no reason, no purpose. They just occur and we’re left to pick up the pieces the best we can. – Sally

I’m learning little by little that we decide what our lives are gonna be. Things happen to us. But it’s our reactions that matter. – Sally

Our best decisions, the ones that we never regret, come from listening to ourselves. – Sally

a tristeza tem sempre uma esperança

 de um dia não ser mais triste não.

 

“vai passar, tu sabes que vai passar. talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? o verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada ‘impulso vital’. pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como ‘estou contente outra vez’.”

(caio fernando abreu)

lacuna inc.

Foi dia desses que percebi como é estranho não te contar cotidianos, que fiz bolo de banana, que fiquei feliz que o palmeiras ganhou o jogo, que recebi recado bacana. E como faz falta não falarmos mais de coisas banais, não saber se você ficou feliz ou triste que o Rio vai sediar as Olimpíadas, te contar do livro que estou lendo ou do filme que vi na tevê. Ainda há um buraco de dor não fechado, que vai cicatrizar, eu sei. Mas ainda é cedo.


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